O inverno da guerra - Joel Silveira
“Ao contrário do poeta, não foi exatamente por delicadeza que naqueles quase nove meses perdi parte de minha mocidade, ou o que restava dela. A guerra, repito, é nojenta. E o que ela nos tira (quando não nos tira a vida) nunca mais nos devolve.”
O ano era 1944. Na assolada Europa a Segunda Guerra Mundial já se encontrava nos princípios de um agonizante fim. No Brasil, o presidente dos “Diários Associados” (um enorme conglomerado empresarial da imprensa à época), Assis Chateaubriand, convocou o jornalista Joel Silveira para a cobertura das incursões da Força Expedicionária Brasileira na Itália fascista do tresloucado Mussolini; e o fez com as seguintes palavras, diante do já fardado jornalista de 26 anos: “Silveira, me faça um favor de ordem pessoal. Vá para a guerra mas não morra. Repórter não é para morrer, é para mandar notícias.”
E com esta ordem seguiu para a Itália o jovem e competente correspondente de guerra, que lá se juntou a Rubem Braga (Diário Carioca), Egydio Squeff (O Globo) e Thassilo Mitke (da Agência Nacional), além de ter convivido com muitos outros repórteres compatriotas e de outros países.
Escritos em forma de diário, alguns dos melhores textos de Joel são trazidos neste intenso e singular livro, onde nos são mostrados, com simplicidade e um certo lirismo, a rotina no front e o deslinde dos avanços da FEB. Tais relatos foram originalmente publicados no mesmo ano em que a Segunda Grande Guerra havia terminado – 1945 - no livro “Histórias de Pracinhas”. A atual edição, trazida pela Objetiva (vide foto acima), conta com um maravilhoso e inédito texto autor, que apresenta - com muita sensibilidade - a obra ao leitor, servindo também como um singelo desabafo aos anos e anos de comentários insensíveis e impensados, que insinuavam ter sido um mero “passeio” a participação do Brasil na guerra, bem como classificando como “fácil” o trabalho dos correspondentes na Itália.
“O inverno da guerra” pertence a uma primorosa coleção chamada “Jornalismo de Guerra”, da editora Objetiva, inaugurada com “A Queda de Bagdá”, de Jon Lee Anderson e que também conta com o excelente “O Gosto da Guerra”, de José Hamilton Ribeiro, repórter brasileiro que cobriu a guerra do Vietnã. Vale a pena dar uma olhada nesta arrebatadora coleção, que promete lançar os mais fortes e célebres relatos dos maiores conflitos bélicos dos séculos XX e XXI.
Enfim, este relato de Joel Silveira é indubitavelmente uma ótima oportunidade para conhecer, mesmo que superficialmente, alguns aspectos de um dos mais importantes episódios da história do Brasil, às vezes tão injustamente esquecido ou menoscabado.
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