O homem que matou Getúlio Vargas - Jô Soares
O homem que matou Getúlio Vargas (1998)
Dimitri Borja Korosec, nascido na Bósnia em 1897, é filho de um anarquista sérvio e uma contorcionista brasileira que fugiu de sua pátria para acompanhar uma trupe circense. A mãe de Dimitri guarda uma peculiaridade em suas espúrias origens, uma vez que é filha de uma escrava com o coronel Manoel Vargas, pai de Getúlio Vargas.
Por influência de seu pai, o jovem Dimitri ingressa na Skola Atentatora, uma instituição que forma assassinos profissionais, especializados em atentar contra ditadores e políticos “opressores”. Todavia, o já obstinado rapaz, além de uma anomalia que o faz ter um dedo indicador a mais em cada mão, é caracterizado por ser explícita e exageradamente desastrado.
Após concluir seus “estudos” na delicada arte de matar, o jovem anarquista parte em uma inflexível cruzada tendente a exterminar todos os ditares e opressores do mundo. Em sua insólita jornada, Dimitri presencia o estopim da Primeira Grande Guerra, participa diretamente deste conflito, conhece Marie Curie e Mata Hari, sendo que esta última no Orient Express, passa pelo fantástico mundo Hollywoodiano, conhece Al Capone e a nata da máfia de Chicago e, dentre inúmeros outros destinos, passa pelo Brasil, tão mencionado por sua mãe e que lhe inspira várias curiosidades. As destinações e personalidades mencionadas acima são apenas exemplos de um enredo feito no melhor estilo “Forrest Gump” (1985), um livro de Winston Groom que baseou o filme de Robert Zemeckis.
E são nestas curiosas bases que Jô Soares estrutura - com maestria - “O homem que matou Getúlio Vargas”, uma simples, acessível e deliciosa obra que mistura inteligentemente História e ficção, absurdo e realidade. E essa combinação é feita com tanta perícia (e, principalmente, tanto cinismo) que o leitor não interrompe a leitura para se questionar acerca da veracidade ou coerência dos fatos, limitand0-se a devorar as páginas, aceitando como a mais pura verdade todas as passagens e acontecimentos da vida de Dimitri Borja Korosec.
Muitos resistem à leitura das obras de Jô Soares, por vezes fundamentando sua resistência na presumida personalidade egocêntrica do autor. Todavia, convém ressaltar que, mesmo que tais oposições possam ser pertinentes, elas não significam de modo algum uma suposta diminuição de qualidade dos escritos. Vale a pena ler esta preciosa obra, que quando é terminada deixa uma suave sensação de “querer mais”.
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