Os Nazistas e a Solução Final - Mark Roseman
“Mas o Protocolo é ainda mais revelador. Com gélida precisão, Heydrich esclareceu que a morte dos judeus aptos ao trabalho estava programada. Eles seriam ou esmagados pelas condições de trabalho ou assassinados por terem sido resistentes o bastante para sobreviver a elas.”
Este livro do historiador e professor da Universidade de Southampton, Mark Roseman, expõe em todos os detalhes a negativamente famigerada Conferência de Wannsee. Certamente, a maior relevância desta obra é expor as misteriosas origens de um triste fato histórico, que muitos conhecem apenas em suas conseqüências, seguramente mais óbvias e notórias.
A reunião, envolvendo proeminentes membros do Partido Nazista, oficiais da SS e alguns funcionários civis de certa relevância, foi realizada às margens do lago Großer Wannsee, nos subúrbios de Berlin, em 20 de janeiro de 1942. Apesar de ter durado apenas noventa minutos, neste encontro foi possível expor as linhas mestras sobre as quais iria se desenrolar um dos mais cruéis genocídios da história da humanidade.
Das trinta cópias do Protocolo de Wannsee (ata, do alemão Protokoll), apenas uma sobreviveu ao fim da guerra e foi descoberta por assistentes de um promotor americano durante a coleta de documentos para o Julgamento de Nuremberg. E foi exatamente essa cópia, de número 16, que descortinou ao mundo a frieza que ilustraria o Nazismo para as gerações futuras.
Entre guloseimas, drinques e charutos, os descontraídos participantes da Conferência de Wannsee debateram aquilo que já havia sido feito com relação aos judeus até 1941, bem como discutiram o que já se denominava, àquele momento, de “solução final da questão judaica” (Endlösung der Judenfrage), esclarecendo alguns pontos controversos e ratificando tudo o quanto Hitler e Himmler já haviam determinado. A reunião era a ocasião para apresentar, aos diversos atores do staff nazista, os planos e diretrizes daquilo que viria a ser o holocausto dos judeus pelo nazismo. Na linguagem eufêmica do documento, debatia-se quanto à “evacuação” de judeus para o leste.
Os trabalhos naquele dia foram conduzidos por Reinhard Heydrich (foto ao acima), o jovem SS-Obergruppenführer (General da SS), de apenas 37 anos, mas que já era chefe do Reichssicherheitshauptamt (líder de um corpo que incluía a Gestapo, a polícia criminal nazista e a SD - Sicherheitsdienst), um dos capachos mais próximos de Himmler, mas que já havia saído da sombra deste. Ironicamente, Heydrich, que capitaneara a conferência e, com isso, havia angariado respeito e poder, morreria em um atentado em Praga, meses depois.
A densidade das informações pode entediar os leitores menos acostumados a livros históricos sobre temas velados, apenas vislumbráveis por dados documentais extremamente burocráticos, envolvendo muitos memorandos, comunicações, números, cálculos e disposições logísticas.
Mesmo assim, esta obra não deixa de ser uma leitura necessária a todos que queiram descobrir como os nazistas discutiram, esclareceram, planejaram e executaram a morte cruenta de seis milhões de judeus, além de ciganos, alemães opositores ao nazismo, e outras minorias.
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