O pianista - Władysław Szpilman
“Estava só. Não no prédio, nem mesmo no bairro, mas em toda a cidade. Uma cidade que ainda há pouco tinha um milhão e meio de habitantes e fora um das mais ricas e mais belas da Europa. Hoje, no entanto, jazia em ruínas. Sob os escombros dos seus edifícios queimados e destruídos estavam soterradas as preciosidades culturais de todo o país acumuladas por séculos e os milhares de corpos de seres assassinados que se decompunham no calor dos últimos dias de outono.”
"O pianista", do polonês Władysław Szpilman, pode ser considerado um dos mais valiosos e autênticos relatos da Segunda Guerra Mundial. O autor narra os horrores de uma guerra que atingiu a sua outrora bucólica Varsóvia, capital do país que foi o primeiro alvo de Hitler que precisou ser invadido violentamente com o aparato militar nazista em sua campanha expansionista, pois a Tchecoslováquia e Áustria foram territórios anteriormente anexados por mera pressão diplomática ou artimanhas políticas.
Escrito logo após o fim da guerra em 1945, o livro tinha o título original de “Morte de uma cidade” (Śmierć Miasta), que foi duramente fustigado pelo comunismo polonês do pós-guerra. Por isso, foi reeditado apenas em 1998 como “O pianista” (Pianista).
Retirado de sua rotina por um combate que se encontrava às portas de sua cidade, Szpilman, um pianista que trabalhava em uma rádio, passa a ver concidadãos e familiares desaparecerem, e atos antes tão comuns, como atravessar uma rua ou matar a sede, passaram a ser problemas extremos de sobrevivência, como que pequenas amostras daquela gigantesca e cruel guerra.
O fascinante nos relatos de Szpilman não são os fatos em si, mas o modo como estes são contados. Sem ira, sem julgamentos e sem valorações. Em vez de tais traços - infelizmente tão comuns em livros do gênero - percebe-se um testemunho clínico, claro e preciso. Não se vêem adjetivações nem intervenções narrativas. A nudez dos relatos faz com que o autor pareça ser um 'fantasma', uma vítima que não conseguiu sobreviver aos terrores nazistas e, não tendo mais nada a perder nem a ganhar, apenas conta sua tragédia imparcialmente, sem se preocupar com mais nada.
Szpilman, um dos poucos judeus sobreviventes de Varsóvia que não foi enviado para um campo de concentração, demonstra uma grandeza de caráter extraordinária, ao relatar a destruição de sua família, seus amigos, sua cidade e sua liberdade com tamanha frieza e responsabilidade.
"O pianista" representa a mais perfeita definição do ato de testemunhar e reserva unicamente aos leitores a possibilidade de fazer julgamentos.
Um triste marco na história da humanidade, registrado de uma forma assombrosamente fiel e realista. É como reviver um pesadelo através dos olhos de Szpilman.
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