A sangue frio - Truman Capote
A sangue frio (In cold blood, 1965)
“Na confissão, Smith dissera: ‘Não queria fazer mal. Me parecia um cavalheiro muito distinto. De fala macia. Até a hora de cortar o pescoço dele eu achava isso’ ”.
À época em que Truman Capote decidiu escrever “A sangue frio”, em 1959, ele já era um célebre escritor norte-americano, bastante conhecido por seus livros, contos e peças teatrais, muitos destes adaptados para o cinema e para a TV. Após finalizar e lançar “A sangue frio”, seis anos depois, ele seria mais reconhecido ainda.
Capote, bem relacionado na roda da fama de seu país, era popular por sua irreverência, seus trejeitos afeminados, sua voz extremamente aguda e um jeito extravagante de se vestir, além de inúmeros outros maneirismos bem característicos, que o tornaram uma figura notória e igualmente excêntrica. Entre suas obras, já se destacavam “Outras vozes, outros lugares” (Other voices, other rooms, 1948) e “Bonequinha de luxo” (Breakfast at Tiffany's, 1958).
Em novembro de 1959, Capote ficou instigado ao ler jornais com as primeiras notícias sobre o brutal assassinato de quatro membros de uma tradicional família de fazendeiros de uma tranqüila cidade do estado do Kansas. Herb Clutter e sua esposa Bonnie, além de seus filhos Kenyon e Nancy (15 e 16 anos, respectivamente), haviam sido amarrados e mortos com tiros de espingarda na cabeça. Não havia qualquer pista sobre os assassinos e todo o caso era um abstruso mistério.
A revista “The New Yorker”, para a qual Truman trabalhava, o enviou para escrever um artigo detalhado sobre crime. Já no Kansas, ele logo pediu mais tempo e mais dinheiro, pois sentia ali o nascimento de um livro que seria, como ele mesmo já antevia, um enorme sucesso, um marco, um “romance de não ficção” (non-fiction novel) – como ele mesmo batizou. Para compor a obra, Capote entrevistou os concidadãos e amigos das vítimas, autoridades policiais e indivíduos de todos os locais por onde caça aos criminosos passou. Ao colecionar e encadear os detalhes e fatos na ordem em que foram sendo esclarecidos, o autor faz com que o leitor repita a frenética viagem feita por ele, em busca da verdade.
Ele estava certo e, com seu pioneirismo e aquela alcunha, acabou criando um gênero literário.
Este livro de Capote acabou se firmando como um indiscutível marco na literatura mundial e na história do jornalismo investigativo. Unindo a objetividade dos textos jornalísticos com as vicissitudes de uma narrativa romancista, “A sangue frio” consegue ser uma longa reportagem, mas que pode perfeitamente ser lida como um excelente romance, trazendo ainda valiosas reflexões sobre a pena de morte.
Fruto de seis anos de extenuante trabalho, eis uma obra forte, real ao extremo e religiosamente fiel aos fatos em todos os seus detalhes, narrados com uma concatenação capaz de afetar profundamente mesmo os mais impassíveis leitores. Um clássico da literatura mundial.